16 junho 2016

A menina da loja



A MENINA DA LOJA
Por Larissa Nery


          O relógio marcava 17 horas e Ethan Hills batucava os dedos, já impaciente.

— Hey! Esse barulho está me irritando! – reclamou Mattheo Foster na mesa ao lado.

          O escritório onde Ethan trabalhava ao lado de seus amigos ficava localizado bem próximo ao centro de Londres, e embora costumasse ser bem movimentado, hoje, em especial, não havia cliente algum.
          O moreno levantou o braço conferindo a hora em seu relógio. A impaciência de Hills ultrapassou a barreira da discrição e passou a deixar bem claro para todos o quanto ele estava inquieto. Ethan se levantou da cadeira e andou até a janela. Encostou a cabeça no vidro gelado e, fechando os olhos, suspirou.

— O que está te incomodando, Ethan? – Matt perguntou.
— Essa hora que não passa... – Exclamou Ethan, conferindo, mais uma vez, a hora em seu relógio.
— Tudo isso por causa da menina da loja? – Matt soltou um risinho debochado.
— Não comece, Foster, antes que eu perca a coragem. – Ethan desencostou.
— O que? Vai falar com ela hoje? – Mattheo arqueou as sobrancelhas com a suposição.

          Ethan fitou o amigo decidindo entre contar ou não a Mattheo.
          Ele vai tirar sarro de mim, pensou Ethan.

— Talvez. – Hills deu de ombros enquanto saia do campo de visão de Matt, indo para o outro lado e se jogando novamente na sua poltrona confortável.
— Já estava na hora, não é, amigão? – Foster riu e bateu duas vezes no ombro do amigo.

          Por falar em hora... – Ethan lembrou-se de conferir o relógio, e para sua sorte, aquela era a última vez. Ao encarar os números no canto inferior direito de seu computador, ele abriu um sorriso.

          Ethan rapidamente se levantou empurrando a poltrona para longe da mesa. Mattheo olhou para cima assustado e depois sorriu balançando a cabeça em sinal de negação. Foster achava engraçado o fato do amigo morrer de amores por uma atendente de uma loja, uma garota com a qual ele nunca trocou uma única palavra e não sabe nem o nome. Todos os dias, Ethan saia mais cedo do escritório apenas com a finalidade de poder ver a garota da loja. Ethan juntou suas coisas com uma rapidez estupenda, se despediu de Matt e assim partiu do escritório. Ele andava apressadamente entre as pessoas na entrada do grande prédio e logo alcançou seu carro no estacionamento. Não que do escritório de Ethan até a loja fosse um caminho longo. Na verdade, eram apenas algumas quadras, mas após ali, Ethan ia para sua casa.

          Hoje era uma sexta-feira, o que deixava Ethan ainda mais tenso. Passaria dois dias sem ver sua garota da loja. E ao acordar pela manhã depois de mais um sonho com a dona dos olhos azuis e cabelos castanhos ondulados, ele decidiu que hoje iria falar com ela.

— Não há o que temer, Ethan. É apenas uma garota. Fale com ela! – ele falou em voz alta sozinho dentro do carro, quando estacionava em uma praça, perto da loja de sua garota.

          Sim, ele a denominava “sua garota” e era o que era. Pelo menos nos seus pensamentos.

          Ethan desceu do carro, largando o blazer do terno em cima no banco. Afrouxou um pouco a gravata e em seguida retirou-a também. Ele se inclinou sobre o banco e pegou o celular e a carteira. Já havia começado a andar quando lembrou-se de acionar o alarme do carro. Ethan conferiu a hora e sorriu ao saber que estava dentro do horário. Olhou para os lados, atravessando a rua em seguida. Após virar a esquina, Ethan observou a pequena placa que indicava a pequena floricultura. Mas ao invés de espiar através da vitrine de uma lanchonete do outro lado da rua como sempre fazia, dessa vez Ethan ficou parado na porta da loja ao lado. Seu plano era falar com ela, quando a mesma deixasse a loja. Ethan sabia que ela passaria por ali. Todas as sextas, sua menina da loja ia para um café que ficava perto da praça onde estacionou o carro. Ela ficava ali, lendo um livro e tomando um café por algumas horas e depois tomava um táxi, acreditava ele que, rumo a sua casa.

          Ethan conferiu mais uma vez o relógio, vendo que estava na hora de sua garota sair. Repentinamente, ele sentiu suas mãos mais frias que o normal. Seus dedos denunciavam seu nervosismo com um leve tremor. Ethan Hills foi despertado de sua briga, pela voz de sua amada.

— Até mais, Margot! Tenha um bom fim de semana! – ela falou alto da porta.

          Ethan observou a morena a sua frente, ela estava parada guardando seu celular dentro da bolsa. Seus lindos olhos azuis vasculhavam todo o assessório em busca de algo e, impaciente por não encontrar de primeira, ela mordeu os lábios. Logo ela puxou a bolsa para fora do ombro para assim procurar melhor. A morena deu um sorriso mínimo quando finalmente encontrou um elástico de cabelo.

          Ela não fará isso! Não na minha frente! — Ethan pensou.

          A morena então desfez o coque que usava e balançou levemente os cabelos.

          Oh, droga! Ela fica perfeita quando faz isso. — Concluiu Hills após analisá-la.

          Quando percebeu que ela já andava em sua direção, seu subconsciente começou a cochichar...
E então o medo e insegurança o invadiram.

E se ela te der um fora?

E se ela tiver um namorado ou marido?

E se ela for lésbica?

E se...

          E nisso a morena passou por ele. Hills suspirou baixo. Havia mais uma vez falhado. Havia deixado a garota dos seus sonhos passar. Ele ainda estava parado, no meio da calçada, frustrado demais para qualquer coisa. O rapaz olhou para os pés. Estava decepcionado por não ter conseguido falar com sua garota. Girou nos calcanhares e rumou em direção ao carro. Iria para casa, estava se sentido inútil demais para qualquer outro plano. Já dentro do carro ele olhou na direção do café. Viu a menina da loja sentada lendo um livro. O cabelo agora se encontrava preso em um rabo de cavalo que se mantinha ondulado, tanto pelas ondas naturais, quanto pelo coque que havia sido desfeito há pouco. Analisava cada detalhe dela, guardando para o fim de semana. Mas foi interrompido pelo som de seu celular.

          Ethan sacou o aparelho do bolso da calça e atendeu.

— Sabe de uma coisa, Hills? Eu acabei de passar aqui pelo café e vi sua garota sozinha. O que houve, levou um fora? – A voz de Matt soou debochada pelo telefone.
—Vá a merda, Matt. Não estou com saco para suas piadinhas. – Hills soltou um suspiro em seguida.
— Não conseguiu de novo, não foi? – Matt perguntou controlando o tom de voz para não causar mais problemas ao amigo.
— Olha só, eu estou cansado e frustrado. Então, se você me ligou apenas para me ridicularizar, eu digo, passar bem, Foster! – Hills falou ríspido.
— Você já foi menos amargurado, Hills ! E mais corajoso também! – A risada de Matt fez com que o sangue de Ethan fervesse a ponto dele desligar o telefone na cara do amigo.

          Ele jogou o aparelho no banco do carro e quando foi colocar a chave na ignição olhou para sua garota. As palavras de Matt ecoaram em sua cabeça, e numa súbita coragem ele saltou do carro.
          A moça estava sentada na mesma de sempre, com a bebida de sempre. Um chocolate quente, acompanhado de alguns cookies e muffins. Ela se concentrava no texto de “O Som e a Fúria", de William Faulkner”.

Que livro confuso, pensou ela.

          A morena bufava e franzia a testa tentando entender o que se passava. Sempre foi atenta a leitura e agora estava sentindo uma grande lacuna na história. Teria deixado passar algo?
Foi interrompida por uma silhueta masculina a sua frente. Levantou os olhos e fitou um rapaz de corpo forte, cabelos e olhos castanhos e um sorriso tímido.

— Posso me sentar? – Sua voz rouca chocou-se contra ela, que estava mais entretida em observar o movimentos dos seus lindos lábios.

          Após o pedido do rapaz, a moça subiu o olhar de encontro aos olhos do moreno.

— Claro! – ela falou sorrindo.

          Ele puxou a cadeira e chamou um atendente. Ethan pediu um café forte e sem açúcar. E quando o garçom saiu, retornou seus olhos para a moça a sua frente vendo que a mesma o encarava.

— Perdão, que indelicadeza. – Ethan abriu um sorriso e estendeu a mão, rezando para que não estivesse tão gelada quanto ele estava nervoso. — Sou Ethan Hills.
— Sou Áurea Olson. – A menina esticou a mão e segurou a de Hills.

          Céus, o que é isso? – Penso Áurea enquanto sentia-se tremer com o toque de Hills.

— É um prazer conhece-la, senhorita Olson. – Hills sorriu.
          Ele estava feliz demais por estar frente a frente com sua garota, mesmo que trocando miseras palavras. Ele estava indo bem, repetia isso diversas vezes.

— É um prazer finalmente conhece-lo, Senhor Hills. – Olson disse sorrindo minimamente.
          Hills a olhou curioso. Ele havia usado um “finalmente” na sua frase.

— Já havia me visto, senhorita? – Ethan disse.

          Áurea abaixou a cabeça um pouco constrangida.

— Vejo você todos os dias, na lanchonete em frente a floricultura. – Admitiu a morena.

          Ethan sorriu imensamente. Ela já havia reparado nele. E não havia sido apenas uma única vez. Ela o via todos os dias. Reparava nele, todos os dias. Ele não podia estar mais satisfeito.

— Que bom, eu ia até lá apenas para te ver! – Ethan admitiu também.

          Os dois se olharam com um certo brilho.

         Algo acontecia ali.
          Áurea estava frente a frente com o garoto que via todos os dias dentro da lanchonete da frente. Todos os dias ela via ele chegar e se sentar na mesa perto da vitrine. Chegou até a comentar com uma amiga o quanto o achava atraente. E agora ele estava ali. Seu garoto da vitrine.

          E Ethan, ele não podia estar mais feliz. Estava de frente a garota que dominou seus pensamentos nos últimos meses. A dona do sorriso que o fazia sorrir. O motivo pelo qual ele chegava mais tarde em casa todos os dias, após esperar ela tomar um táxi para casa. Sua menina da loja.


*****
Hey, Pessoal. Esse texto é de minha autoria e é proibida a reprodução total ou parcial. 
Eu gosto muito de escrever várias histórias de ficcção e romance e vou compartilhar algumas com vocês. Seja em one-shots (capítulo único) ou em diversos capítulos. 
Eu espero que vocês tenham gostado e deixem comentários dizendo o que achou! 
Até mais! 
:)

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